Blog do Diogo

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Foto de Ron Lach

A leitura é uma das atividades de que mais gosto desde o dia em que aprendi a ler.

Lembro como se fosse ontem: eu sentado na cama, com o livro Caminho Suave entre as pernas, e de repente consegui ler “Barata”.
Passei para outra frase, depois outra, e fiquei em êxtase por perceber que aquelas letras finalmente faziam sentido.

Corri até minha mãe, mostrei que estava lendo, e ela me deu um sorriso terno. Parecia orgulhosa.

Esse sentimento eu carrego até hoje. Sou grato por todos os livros que já li — e agora, vendo meu filho começar sua fase de alfabetização, fico animado para que ele descubra esse mesmo mundo.

Desde cedo incentivamos a leitura na vida dele. Contamos histórias para dormir desde seus dois aninhos. Agora, mais velho, demos quadrinhos da Disney, Turma da Mônica e até Homem-Cão, que atraiu a atenção dele após assistir à animação.

Mas basta pedirmos para ele ler um trecho que seja e logo ele diz que não quer. Faz corpo mole, diz que isso é tarefa da escola, e às vezes até se frustra porque insistimos um pouco mais. E eu entendo: na cabeça dele não existe razão para pressa alguma, enquanto na minha e na de minha esposa, ficamos preocupados o tempo todo com seu desempenho escolar.

Ontem, quando cheguei do trabalho, trouxe um livro que ganhei de um amigo. Enquanto guardava minha mochila, deixei o livro no braço do sofá. Como bom curioso, ele foi até lá e começou a ler o título.

Ouvi que leu corretamente e me animei:
“Olha só como você leu certinho! Tá vendo como não é difícil, filho?”

O rosto dele se abriu num sorriso largo, daqueles genuínos.
Ele agradeceu o elogio — algo que sempre acho fofo — e respondi que era eu quem ficava grato por ver como ele está evoluindo.

Esse momento de espontaneidade realmente mexeu comigo.
Afinal, estamos nessa luta há algum tempo, e por um instante eu me vi nele — como se enxergasse um pedaço do que fui, e talvez até do que minha mãe sentiu quando me viu aprender a ler.

É claro que fico apreensivo.
Vejo que alguns colegas da sala já estão mais avançados, e ele segue num ritmo mais lento.

Mas, quando o vejo ler assim, de repente, por vontade própria, eu percebo que ele está caminhando.
No tempo dele.
E isso me acalma.

Não quero que ele aprenda a ler apenas pela importância da leitura em si, mas porque sei que é lendo que ele vai desenvolver curiosidade, sensibilidade e senso crítico.

No fim das contas, o que são os filhos senão o nosso projeto silencioso de soltar no mundo um ser humano melhor?

Violetta zhirnova no Pixabay

Eu não sou um cara romântico — pelo menos não do jeito que os filmes e novelas fazem parecer.

O amor pode ser visto e expresso de tantas formas diferentes que, às vezes, alguém não te dá presentes caros, mas demonstra o sentimento em gestos que passam despercebidos.

E nem sempre isso envolve outro ser humano. Às vezes o amor está na maneira como o seu animal de estimação te recepciona quando você chega em casa depois de um dia cansativo.

O amor existe nas coisas comuns.
No dia a dia.
Nem sempre é romântico — e quase nunca é grandioso.

Ele aparece nos pequenos atos: na preparação de um prato para a família, no instante em que você observa seu filho brincando e fica hipnotizado por aquele momento, ou quando levanta cedo e, enquanto prepara o café, se deixa envolver pelo cheiro e pelo ar da manhã.

A gratidão também é um estado de amor.
Quando conseguimos ser gratos pelas coisas simples, estamos diante de uma das facetas mais silenciosas — e mais bonitas — do amor.

O amor mora no simples.
A gente é que complica.

Hoje, durante uma ida ao supermercado, ele me perguntou se eu achava a cabeça dele quadrada. Respondi que não, e ele retrucou: “Mas uns amigos na escola disseram que tenho a cabeça quadrada.” Eu ri de leve, mas garanti a ele que a cabeça era normal. Ele deu um sorriso grande e correu com o carrinho, empurrando para o corredor de salgadinhos, enquanto eu ficava ali parado, admirado.

Me alegra olhar para ele e ver como está crescido, e como cada vez mais questiona o mundo ao seu redor. E até me surpreendo quando faz algumas perguntas mais complexas ou simples demais. Isso faz com que meu peito se encha de alegria.

Meu filho é uma das minhas grandes paixões nessa vida, e mesmo às vezes precisando ser rígido com ele — afinal, está em crescimento e por vezes age como se não precisasse seguir regras — eu adoro ver como está crescendo rápido.

Quando ouço que os pais de hoje são muito mais moles do que os de antigamente, eu preciso concordar. Meu pai não me abraçava nem se expressava carinhosamente com frequência, o que me fez questionar, por diversas vezes ao longo da minha turbulenta adolescência, se eu era realmente amado. Talvez isso tenha sido um catalisador para alguns dos problemas que eu tive, mas eu sei que eles fizeram o que podiam com o que os pais deles também lhes deram.

Comigo falando desse modo, parece que sou um pai incrível, mas a bem da verdade eu não me sinto como um. Só consigo ver que existe um grande espaço para melhorias. Tento ser o mais carinhoso que posso sem deixar de ser firme ou puni-lo quando faz algo muito sério, mas também cometi erros, como perder a paciência por coisas simples, apenas porque estava estressado.

Claro, também não posso deixar de citar o medo que eu tenho de ele se tornar um desses idiotas digitais, o que fez com que minha esposa e eu impedíssemos que ele tivesse acesso ao celular ou a jogos de celular. Tudo é acompanhado, às vezes de longe, porque queremos que ele seja independente, mas sempre de olho no comportamento e nas ações.

Ser pai é uma experiência prazerosa e cheia de altos e baixos, onde não há ninguém para lhe dizer se está acertando ou errando na criação. Mas é divertido ver ele apresentando características que herdou de mim e da minha esposa. Como o pavio curto que herdou dela, e que foi notável hoje quando brinquei colocando um pacote de fraldas no carrinho. Quando ele me perguntou para quem era e eu disse que era para ele, devido ao último xixi na cama, ele empurrou o carrinho com força, fechou a cara, tirou o pacote e correu devolver na prateleira, reclamando alto que não era mais bebê.

Na mesma intensidade que ficou bravo, logo passou e veio me mostrar uma caixa de cereal, como se nada tivesse acontecido e nos abraçamos.

Apesar de meu filho não ser como aquelas crianças que fazem um espetáculo onde quer que vão — algo pelo qual sou muito grato — ele não deixa de agir como uma criança que, às vezes, tem dificuldade em lidar com seus próprios sentimentos.

No fim, são essas cenas bobas no mercado que me mostram que está tudo dando certo.

Foto que tirei durante o outono

Por hábito, liguei a TV pra tentar escrever alguma coisa — não que eu fosse realmente prestar atenção em algo.

É uma ação quase automática.
Se não fosse a televisão, provavelmente deixaria algum vídeo rodando em segundo plano, só pra ter algum som ao meu redor.

É um tipo de ruído branco que aprendi a gostar quando escrevo. E como estou me desafiando a escrever o máximo que puder, penso que às vezes pode surgir alguma ideia vinda de algo aleatório passando na TV.

Hoje não foi o caso.
Simplesmente não consegui exprimir nada. Mesmo com tantos assuntos possíveis, quando tento me esforçar pra chegar ao fim de algum tema, não vem nada.

Olhei brevemente o WhatsApp — nenhum assunto interessante.
Abri o Twitter (sinto muito, Elon) e também nada que eu realmente quisesse abordar.

Quer dizer… assuntos existem aos montes.
Mas o que o cérebro deseja transformar em palavras… esse, infelizmente, parece que não veio.

Hoje não foi um bom dia. E acho que todo mundo tem dias assim: quando nada parece realmente importante ou relevante. Quando tudo soa trivial demais pra investir energia.

Às vezes é só nada.

Photo by Tony Schnagl

Se existe um grande incômodo na minha vida, ele certamente são as centenas de notificações que nos bombardeiam o tempo todo pelo celular, afinal, não estar em um grupo de WhatsApp é quase impossível. 

São centenas de mensagens trocadas em poucos minutos — e, de algum modo, somos levados a acreditar que precisamos acompanhar tudo.

Claro, existem casos diferentes, como o celular do trabalho, que eu realmente preciso manter por perto. Mas e o pessoal?

Nele, ficar fora de um grupo de amigos, colegas ou familiares dá a sensação de que estamos perdendo algo, mesmo que raramente haja algo importante acontecendo ali.

As pessoas parecem ter urgência em respostas para assuntos que, na maioria das vezes, são triviais.

É como se vivêssemos um tempo em que tudo é urgente — e você precisa estar presente para ver uma piada de um amigo ou saber o que um familiar fez durante a semana.

Quando foi que nos tornamos tão dependentes de coisas tão pequenas?
Quando foi que passamos a passar tanto tempo conectados aos outros — e tão pouco tempo conosco?

Em meio a tanto ruído digital, comecei a buscar formas de continuar usando o celular, mas sem a loucura que o acompanha.

Em dias de folga, simplesmente esqueço que o celular do trabalho existe.
No pessoal, reduzi o uso das redes e deixei o silêncio voltar a fazer parte da rotina — mesmo que ainda seja estranho, às vezes, estar só comigo mesmo.

Às vezes deixo meu filho na sala brincando e simplesmente me deito na cama, olhando pro teto e aproveitando o tempo sem qualquer ruído.
Ele pode estar assistindo TV, mas eu desligo isso da mente.
Fico ali, quieto, descansando, me perdendo em pensamentos — refletindo sobre a vida, a família, o trabalho.
E, de algum modo, me sinto bem.

Pode soar um pouco bobo dito assim, mas quando você tem uma criança de sete anos, se acostuma aos sons que ela faz.
Eu mesmo adoro ouvir meu filho brincando com os brinquedos, enquanto narra as histórias que inventa.

É curioso… esse barulho não me incomoda.
Talvez porque, dentro dele, eu encontro o silêncio que realmente importa.

Mas eu não sou diferente de você

Quando escrevo essas palavras, talvez quem leia imagine alguém calmo, quase um guru zen — mas a verdade é que minha vida é comum como a de qualquer outra pessoa.

Essas pequenas ações que menciono podem parecer imperceptíveis para muitos, mas quando escrevo sobre elas, percebo o quanto são mais importantes do que eu imaginava.

O que fiz é algo que qualquer pessoa pode fazer: sair de grupos do WhatsApp que não agregavam nada, silenciar os demais para não ser bombardeado por notificações e tentar usar o celular de forma mais racional.

No meu aparelho, não há aplicativos de redes sociais, isso inclui o YouTube que eu desativei.
O Twitter (ou X) é a única que ainda uso — e mesmo assim, apenas pelo navegador, sem notificações.
Outro aplicativo que uso bastante é o Kindle, mas isso deve durar só até eu comprar o e-reader da Amazon, o que, sem dúvida, vai reduzir ainda mais o tempo que passo no celular.

Quando me desconecto, percebo que encontro o silêncio que minha mente tanto precisa.

Escrever é uma dessas atividades que me permite limpar a mente e colocar pra fora o que estava fervendo dentro de mim.

Se você chegou até aqui, espero que essas palavras também te façam parar por um instante — e talvez, no meio do barulho, encontrar um pouco do seu próprio silêncio.

 

Photo by Alexandra Kirikova

Vivemos em um mundo onde todos podem opinar sobre tudo, e isso tornou comum ver ataques a qualquer ideia que fuja do senso coletivo. Pensamentos contrários à maioria costumam ser rechaçados com força, quase como se pensar diferente fosse um ato de provocação.

E, apesar de eu sempre ter sido alguém consciente disso — alguém que, por muito tempo, também fez parte desse senso comum —, acabei me deixando seduzir pela ideia de que podia tomar decisões que tranquilizassem a minha própria mente. E assim o fiz.

No dia primeiro de dezembro completo seis anos desde que adotei o veganismo. E, diferente do que muitos imaginam, sempre vivi essa escolha de forma discreta.

Por ser uma decisão pessoal, feita em respeito aos animais, nunca senti que precisava transformar isso em panfletagem nas redes sociais. A mudança foi íntima — e talvez seja justamente por isso que ela permaneceu.

Talvez o mais importante de tudo seja que eu não tomei essa decisão pensando apenas em mim, mas em como a minha existência reflete no mundo à minha volta.

Estar vivo já implica em causar impacto — em algo, em alguém, em algum lugar. Então, se eu puder reduzir um pouco desse impacto durante a minha passagem pela Terra, já posso me dar por satisfeito.

Photo by Lucas Pezeta

Eu gosto tanto de filmes, videogames e música que fiz questão de viver cercado por eles desde o momento em que comecei a trabalhar e ter dinheiro para comprá-los. Era uma alegria imensa ir até a loja e sair de lá com algo que eu queria. Voltava pra casa satisfeito comigo mesmo, certo de que aproveitaria cada minuto com aquele item.

Se fosse um DVD, provavelmente assistia várias vezes o filme e depois emprestava a um amigo — e às vezes, nunca mais via de volta.
Se fosse um CD, ouvia em loop todos os dias até meus pais reclamarem que eu não escutava outra coisa.
Agora, se fosse um videogame, jogava até o fim — principalmente se fosse original.

Tudo girava em torno de ter o máximo de coisas que refletissem quem eu era.

Pelo menos é assim que me lembro dos anos 90. À medida que envelhecia, a quantidade de coisas que eu acumulava parecia crescer junto comigo. Cada item era um reflexo de quem eu acreditava ser.

Cada uma dessas coleções me deu o prazer que eu procurava na época — e, por um bom tempo, achei que isso era suficiente. Quando me tornei adulto, continuei repetindo o mesmo comportamento de maneira automática.

Criei um site para falar sobre jogos de videogame e, com isso, continuei aumentando a quantidade de títulos que comprava — agora com o pretexto de que precisava publicar nas redes sociais os itens que possuía. Fiz vídeos da minha coleção e até publiquei fotos.

Mas se você me perguntasse:
“Diogo, quantos desses itens você realmente aproveitou?”

Bem, quase nenhum, pra ser sincero.

E comecei a perceber isso aos poucos. Não fiz nada de imediato, mas sentia que algo não estava certo. Eu tinha vários jogos e, quando finalmente tinha tempo, não sentia vontade de jogá-los. Percebi que mantinha coisas apenas para exibição — como se precisasse provar pra internet que eu realmente gostava daquilo tudo.

A virada de chave

Eu já havia lido sobre minimalismo antes, mas foi no ano passado que realmente mergulhei no tema ao ler o livro “Adeus, Coisas”, do autor japonês Fumio Sasaki. Posso dizer que foi uma daquelas leituras que a gente simplesmente não consegue largar.

Me identifiquei com o autor e me vi repetindo os mesmos padrões — cercando-me de objetos numa tentativa silenciosa de preencher o que me faltava por dentro.

Depois que terminei o livro, fiquei em silêncio por um tempo.
Olhei em volta, pensando em tudo o que eu tinha — e, pela primeira vez, me perguntei o que aquilo realmente significava pra mim.

Por que eu precisava daquilo?
O que, de fato, eu estava tentando segurar?

Foi aí que me dei conta de que, por longos anos, vinha carregando uma variedade de coisas que já não significavam nada pra mim emocionalmente. Então decidi dar o primeiro passo. Comecei pelos videogames antigos — vendi alguns, doei outros. Depois foi a vez dos DVDs, dos livros, das coleções.

E o mais curioso é que eu não sinto falta de nenhum desses itens.

Muita gente me disse que eu sentiria falta de tudo isso, mas quando você entende que sua personalidade não precisa ser definida pelo que possui, dizer adeus às coisas se torna mais simples.

Aquele impulso enorme de comprar pra me sentir parte de algo — ou pra preencher o vazio que eu acreditava existir — hoje está sob controle.
Não totalmente, é claro.
Mas agora eu enxergo que não é com coisas que vou preenchê-lo.

E talvez seja isso que o minimalismo ensine de verdade:
ser feliz com o que importa, com o pouco, com aquilo que realmente faz sentido pra você.

Aos poucos, percebi que a leveza não está em ter menos coisas,
mas em precisar de menos delas.

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