O tempo que a gente perde tentando estar presente
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| Photo by August de Richelieu |
Faz algum tempo venho pensando sobre como trocamos a presença física pela presença online, onde as curtidas passaram a importar como se fossem uma via de confirmação da nossa própria existência.
Isso não é curioso? Ter que estar presente nas redes sociais para ser visto e lembrado, enquanto estamos cercados de pessoas todos os dias — em casa, a caminho do trabalho, dentro de um coletivo ou mesmo no ambiente profissional — e ainda assim preferimos tratar com o outro por meio de grupos no WhatsApp.
Pelo menos no ambiente onde trabalho isso acontece com frequência, e eu acho um pouco triste perceber como nossas relações mudaram por causa da tecnologia.
Pensar sobre isso me fez começar a prestar mais atenção ao que está à minha volta. Tenho tentado priorizar o tempo com amigos e familiares e, consequentemente, reduzir o tempo investido no celular. Esse movimento acabou se refletindo até em outros textos que escrevi, como aquele em que falo mais a fundo sobre a nossa dependência dos aparelhos e o impacto que isso tem no modo como vivemos e nos relacionamos. Aliás, ele pode ser lido aqui: Por que meu filho não vai crescer com um pai viciado em redes sociais.
Eu digo isso com propriedade — como uma vítima desse lado vil da tecnologia. Há alguns anos, evitava qualquer tipo de evento social em que precisasse interagir por muito tempo com alguém. Meus familiares costumavam se irritar, pois sempre que algum evento era anunciado, eu perguntava se a minha presença realmente era imprescindível.
Trabalho com atendimento ao público, e minha “bateria social” era drenada todos os dias. No fim do expediente, tudo o que eu queria era silêncio. Com o tempo, esse hábito de evitar contato acabou me isolando mais do que eu imaginava — e, junto com o isolamento, veio uma boa dose de estresse e cansaço mental.
Na época, o afastamento parecia uma forma de conforto. Mas quando fui promovido e o contato direto com o público diminuiu drasticamente, percebi algo curioso: o silêncio que antes me acalmava começou a me incomodar. Depois de quase um ano longe da linha de frente, percebi que me expressar estava mais difícil. As palavras pareciam travadas, e até as conversas simples exigiam esforço.
Foi aí que entendi que aquela distância das pessoas, que eu tanto valorizava, tinha começado a me fazer mal. Senti falta das conversas despretensiosas, do riso fácil, das pequenas trocas que pareciam banais — mas que, no fundo, sempre foram o que mantinha tudo mais leve.
Quando tudo mudou
Quando decidi mudar isso — e até tentar me aproximar mais dos meus colegas de trabalho —, percebi que a oportunidade não demorou a aparecer. Um amigo da empresa me convidou para uma reunião entre funcionários, algo que eles chamam de “baguncinha”.
Ele fez questão de explicar que ali era um ambiente onde todos podiam falar as coisas mais absurdas sem julgamentos. “É bagunça, pô!”, ele disse, rindo.
Fiquei relutante por um tempo, mas acabei topando. Era uma chance de conhecer melhor pessoas que eu só via de longe pelos corredores.
Pra minha surpresa, tudo fluiu de um jeito leve. Em meio às gargalhadas, percebi o quanto estava bem ali — presente, conectado, de verdade. Foram horas de conversa, risadas e histórias, sem me preocupar com o que acontecia no mundo digital, nem com quantas curtidas uma piada de mau gosto poderia render. Naquela noite, eu só estava ali, me divertindo.
Havíamos comprado salgados, então a sala estava com o ar impregnado de óleo de fritura, enquanto um dos rapazes tirava energéticos do frigobar, outro contava alguma anedota e alguém xingava por qualquer motivo.
Terminada a baguncinha, voltei pra casa mais leve e me sentindo realmente feliz. Nunca pensei que me conectar com outras pessoas, no mundo real, pudesse ser tão prazeroso. Percebi que sentia falta de passar esse tempo acompanhado, e cheguei à conclusão de que, como animais sociais que somos, a internet nunca será capaz de suprir essa conexão tão viva que só o mundo real é capaz de proporcionar.
Depois desse primeiro encontro, minha relação com o trabalho também melhorou. Agora eu tinha novos amigos por lá e, entre uma ida ao banheiro ou ao café, podia me deparar com um deles e trocar algumas palavras, ou conversar um pouco na recepção nos dias em que chego mais cedo. Tudo isso se tornou importante, porque torna a vida adulta um pouco mais leve.
Compartilhar um pouco dessa reflexão é o meu modo de lembrar — a mim mesmo e a quem lê — que a vida passa rápido demais pra ser vivida atrás de uma tela.
O que realmente importa ainda acontece fora dela: nas conversas sem pressa, nos olhares, nas presenças que a gente sente mesmo em silencio.
Sobre o Autor
Diogo escreve sobre o que sente, vive e aprende, transformando experiências comuns em reflexões sobre presença, tempo e significado. Apaixonado por jogos, música e cinema, encontrou na escrita um modo simples e verdadeiro de se conectar com as pessoas — longe das telas, mais perto da vida real.

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