Nostalgia e desapego

Photo by Lucas Pezeta

Eu gosto tanto de filmes, videogames e música que fiz questão de viver cercado por eles desde o momento em que comecei a trabalhar e ter dinheiro para comprá-los. Era uma alegria imensa ir até a loja e sair de lá com algo que eu queria. Voltava pra casa satisfeito comigo mesmo, certo de que aproveitaria cada minuto com aquele item.

Se fosse um DVD, provavelmente assistia várias vezes o filme e depois emprestava a um amigo — e às vezes, nunca mais via de volta.
Se fosse um CD, ouvia em loop todos os dias até meus pais reclamarem que eu não escutava outra coisa.
Agora, se fosse um videogame, jogava até o fim — principalmente se fosse original.

Tudo girava em torno de ter o máximo de coisas que refletissem quem eu era.

Pelo menos é assim que me lembro dos anos 90. À medida que envelhecia, a quantidade de coisas que eu acumulava parecia crescer junto comigo. Cada item era um reflexo de quem eu acreditava ser.

Cada uma dessas coleções me deu o prazer que eu procurava na época — e, por um bom tempo, achei que isso era suficiente. Quando me tornei adulto, continuei repetindo o mesmo comportamento de maneira automática.

Criei um site para falar sobre jogos de videogame e, com isso, continuei aumentando a quantidade de títulos que comprava — agora com o pretexto de que precisava publicar nas redes sociais os itens que possuía. Fiz vídeos da minha coleção e até publiquei fotos.

Mas se você me perguntasse:
“Diogo, quantos desses itens você realmente aproveitou?”

Bem, quase nenhum, pra ser sincero.

E comecei a perceber isso aos poucos. Não fiz nada de imediato, mas sentia que algo não estava certo. Eu tinha vários jogos e, quando finalmente tinha tempo, não sentia vontade de jogá-los. Percebi que mantinha coisas apenas para exibição — como se precisasse provar pra internet que eu realmente gostava daquilo tudo.

A virada de chave

Eu já havia lido sobre minimalismo antes, mas foi no ano passado que realmente mergulhei no tema ao ler o livro “Adeus, Coisas”, do autor japonês Fumio Sasaki. Posso dizer que foi uma daquelas leituras que a gente simplesmente não consegue largar.

Me identifiquei com o autor e me vi repetindo os mesmos padrões — cercando-me de objetos numa tentativa silenciosa de preencher o que me faltava por dentro.

Depois que terminei o livro, fiquei em silêncio por um tempo.
Olhei em volta, pensando em tudo o que eu tinha — e, pela primeira vez, me perguntei o que aquilo realmente significava pra mim.

Por que eu precisava daquilo?
O que, de fato, eu estava tentando segurar?

Foi aí que me dei conta de que, por longos anos, vinha carregando uma variedade de coisas que já não significavam nada pra mim emocionalmente. Então decidi dar o primeiro passo. Comecei pelos videogames antigos — vendi alguns, doei outros. Depois foi a vez dos DVDs, dos livros, das coleções.

E o mais curioso é que eu não sinto falta de nenhum desses itens.

Muita gente me disse que eu sentiria falta de tudo isso, mas quando você entende que sua personalidade não precisa ser definida pelo que possui, dizer adeus às coisas se torna mais simples.

Aquele impulso enorme de comprar pra me sentir parte de algo — ou pra preencher o vazio que eu acreditava existir — hoje está sob controle.
Não totalmente, é claro.
Mas agora eu enxergo que não é com coisas que vou preenchê-lo.

E talvez seja isso que o minimalismo ensine de verdade:
ser feliz com o que importa, com o pouco, com aquilo que realmente faz sentido pra você.

Aos poucos, percebi que a leveza não está em ter menos coisas,
mas em precisar de menos delas.

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Sobre o Autor

Diogo escreve sobre o que sente, vive e aprende, transformando experiências comuns em reflexões sobre presença, tempo e significado. Apaixonado por jogos, música e cinema, encontrou na escrita um modo simples e verdadeiro de se conectar com as pessoas — longe das telas, mais perto da vida real.

2 comentários:

  1. Muita coisa ainda não consegui realmente me desfazer, é preciso de mais tempo... meus livros já quero fazer um pente fino, mas não quero simplesmente me desfazer de tudo.... bom texto.

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    1. Obrigado pelo comentário, Nesbitt. Penso que esse tipo de ação precisa ser feita em seu tempo mesmo, pois não se trata apenas de descartar tudo, mas sim manter aquilo que realmente importa pra você. Vai no seu tempo, não tem outra forma de fazer isso.

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