O último item que desapeguei — e o que senti

Escrevi brevemente sobre o minimalismo em um texto sobre nostalgia e desapego, e sobre como tenho praticado isso há pouco mais de um ano. Não é um processo simples, e também não quero que ninguém saia correndo por aí jogando tudo no lixo.

Para mim, foi mais uma jornada de autodescoberta.
Percebi que me fazia mal estar cercado por tantas coisas e não me dedicar a nenhuma delas. Como a coleção de videogames que tive — cheia, grande, bonita… mas parada. O mesmo acontecia com filmes, livros e tantas outras coisas que eu acumulava sem realmente viver.

No fim das contas, pensar sobre tudo isso me levou ao desapego.
E, curiosamente, hoje me sinto mais leve do que me sentia um ano atrás.

Não quero viver numa floresta ou numa caverna, obviamente. Mas quando deixei minha coleção de CDs partir, percebi que realmente me sentia bem. Muitos dos álbuns eu nem ouvia mais — e, quando ouvia, era só no carro, o único lugar onde ainda tenho um toca-CD.

Por mais banal que pareça, entendi que ter menos também significa gastar menos tempo tentando conservar as coisas. Limpar, organizar, guardar… tudo isso exige energia, mesmo quando você já não usa mais nada daquilo.

Olho para o espaço vazio que ficou e percebo que deixei ir uma parte de mim de que eu não precisava mais. Eu adoro música — sempre adorei — mas hoje ouço muito menos do que na adolescência, época em que comecei a colecionar.

Com o tempo, entendi que, quando compramos algo, entramos num contrato silencioso com aquele objeto.
Um contrato que nos condiciona a cuidar dele, mesmo quando não queremos mais interagir com aquilo. Cada canto da casa acaba lembrando que algo ali precisa ser usado, limpo ou organizado.

O minimalismo, apesar de ser uma descoberta pessoal e uma reflexão sobre consumo, também é sobre a relação que criamos com o que possuímos — e sobre perceber quando já não precisamos daquilo para existir.

Quando surgiu a oportunidade de me desapegar dos CDs, eu não precisei pensar muito. Eu já sabia que era hora de deixá-los partir. Eu não sou mais o adolescente que precisava de uma coleção para impressionar alguém — fosse na internet ou na vida real.

A verdade é que aproveitei cada um daqueles álbuns. Eles fizeram parte da minha formação, ajudaram a moldar o meu gosto musical — que hoje é completamente diferente do que era vinte anos atrás.
E tudo bem. Eles cumpriram o papel deles. Agora era a minha vez de seguir em frente.

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Sobre o Autor

Diogo escreve sobre o que sente, vive e aprende, transformando experiências comuns em reflexões sobre presença, tempo e significado. Apaixonado por jogos, música e cinema, encontrou na escrita um modo simples e verdadeiro de se conectar com as pessoas — longe das telas, mais perto da vida real.

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