Tempo para existir sem pressa

Pexels

Chegar aos 40 me fez perceber muita coisa — e uma delas é que o que já era ruim conseguiu piorar com a ascensão das redes sociais. Antes, a gente lidava com programas de gosto duvidoso. Hoje, lidamos com gente duvidosa produzindo coisas ainda mais duvidosas.

O YouTube está repleto de conteúdo inútil, e o algoritmo faz questão de nos bombardear com isso, e com o shorts, uma simples rolagem pode tomar alguns bons minutos do seu tempo. E quando se tem uma criança, eu digo que é impossível deixá-los sozinhos com a tv.

Mesmo controlando, meu filho teve contato com outras crianças na escola e descobriu animações que, sinceramente, me fez perceber que, apesar de He-Man ter sido criado para vender brinquedos, o desenho ao menos buscava oferecer mensagens positivas às crianças.

Hoje, em compensação, parece que tudo foi projetado para o brain rot — conteúdo rápido, barulhento, hipercolorido, sem pausa, sem propósito e sem qualquer interesse em ensinar algo além de como perder a atenção em cinco segundos.

O que me leva a perceber o quanto é difícil criar uma criança numa era parcialmente digital, onde se tornou quase um senso comum entregar um celular na mão delas.
Perto de outras crianças, meu filho às vezes parece um pouco deslocado. Mesmo se inteirando na escola, os colegas vivem falando de animações que ele não assiste ou de jogos — como Roblox — que ele não joga.

E eu me pego pensando se essa privação que escolhemos impor não contribui para que ele se isole um pouco.
Mas, ao mesmo tempo, não me sinto culpado por permitir que ele seja simplesmente uma criança: que brinque com seus brinquedos, que tenha horário para dormir, tempo de tela limitado e tempo de videogame com propósito.

Talvez ele demore mais para entrar em certas conversas. Mas, em troca, ganha algo que o mundo parece ter esquecido de oferecer: tempo para existir sem pressa.
 
Enquanto tudo ao redor parece se mover depressa demais, eu consigo vê-lo descobrindo o mundo no próprio tempo — e isso é bom.
Quero que ele viva a infância com ternura, com lembranças reais, e não lembranças do tempo que passou com um celular nas mãos.

Share this:

Sobre o Autor

Diogo escreve sobre o que sente, vive e aprende, transformando experiências comuns em reflexões sobre presença, tempo e significado. Apaixonado por jogos, música e cinema, encontrou na escrita um modo simples e verdadeiro de se conectar com as pessoas — longe das telas, mais perto da vida real.

0 comentários:

Postar um comentário